quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Uma carta franca ao prefeito de São Sebastião

São Sebastião, 30 de janeiro de 2011

                                               Senhor Prefeito

Munícipe de São Sebastião há quarenta anos, participante  da vida sociopolítica da cidade há cerca de trinta,  contribuinte de impostos, alias caríssimos para o pouco serviço prestado, sua eleitora – muito arrependida! –venho dizer-lhe o seguinte:

1.     o projeto que  pretende mandar para  a Câmara Municipal legalaizando o terceiro andar é imoral, ilegal, antiético e não combina com as promessas de honestidade, probidade, clareza e justiça feitas durante a sua campanha;

2.     “legalizar” os terceiros andares, construídos com indícios de corrupção ou, quando muito, com os olhos fechados de fiscais e, consequentemente, da Prefeitura é ato que deslustra a sua biografia, até agora de cidadão probo;

3.     o senhor  está abrindo portas para a verticalização do município, a mesma verticalização que, durante sua campanha,  afirmou ser contra; ignora o abaixo assinado de 24 mil nomes entregue ao antigo prefeito, à Câmara Municipal e ao Ministério Público quando da ameaça de verticalização feita na gestão passada; permite que mentes  espertas  de engenheiros que “bolaram”  a caixa d’água transformada no fictício mezzanino, (que permitiram nesse mesmo fictício mezzanino  terraços, piscinas, suítes, jardins e o que mais  as mentes espertas inventassem)  comecem a pensar, em êxtase, no quarto e no quinto andares; ajuda construtores inescrupulosos a aumentarem seus lucros; (Entre parênteses: não sou contra o lucro, permitido na Constituição. Sou contra a ganância!)

4.     o senhor não sabe resolver os conflitos que se lhe aparecem e acha mais fácil “legalizar” irregularidades do que lhes impor formas punitivas; o senhor, com esta “legalização” do terceiro andar – contra as leis vigentes do seu próprio município – protege corruptores e corruptos e penaliza quem segue a legislação e respeita as normas de boa vizinhança, boa conduta e  de cidadania;

5.     o senhor além de tudo, em dois anos de governo, não fez nada pelo município. Deixou que os barracos e até casas suntuosas subam morros, derrubem mata atlântica – preservada pela Unesco – criem áreas de risco com possibilidade de perdas de vidas; o senhor não responde ofícios de sociedades de amigos e da Federação Pró Costa Atlântica e nem sequer acusa que os recebeu;

6.     o senhor ignorou por dois anos que ambulantes  cobravam taxas de banhistas para usar cadeiras e guarda-sóis; o senhor permitiu que hotéis, pousadas e  condomínios fizessem – e continuem fazendo – reserva de espaço nas praias  que são de todos, e, pior: cobrou de condomínios e pousadas taxas inconstitucionais. (Há um repórter de São Paulo que tem cópia de uma multa aplicada a dono de pousada que não pagou a tal taxa inconstitucional de ocupação de areia...) Ninguém é dono da praia, senhor prefeito, as praias brasileiras são de todos! Não cabe a ninguém reservar espaços. Ou no seu município uns são mais iguais que os outros?

7.     Já vi prefeitos bons, medíocres, péssimos; já vi prefeitos bem intencionados que não fizeram nada; já vi prefeitos corruptos que acabaram ricos; já vi prefeitos que se deixaram endeusar, mistificar, que enganaram, surripiaram, fizeram o diabo.

E agora estou vendo um prefeito parado, imobilizado, sem coragem        para tomar atitudes – e quando o faz as toma errado -  ineficiente, incapaz de tocar o município para a frente e de honrar o voto que lhe demos, incapaz de dignificar o salário que lhe pagamos. Um prefeito que não faz nada,  mas também não delega. Que fala pouco e quando fala pretende ensinar o munícipe a agir errado. (Cavando o solo fica mais um andar e ninguém vê, não é, prefeito?) Um prefeito que mantém o município imobilizado. Um prefeito cuja soberba o impede de ouvir, pesar argumentos, refletir sobre o que ouviu, responder ofícios, conversar com a sociedade civil organizada.

Onde hoje se ande pelo município se ouvem reclamações contra a sua gestão.

8.     Por todos esses motivos declaro ao senhor que nunca mais lhe darei o meu voto. Nem que se candidate a síndico de condomínio.

9.     Peço-lhe, também,  que evite me cumprimentar por que não lhe responderei. Não posso cumprimentar um homem que condescende com corruptos e corruptores: legalizar o terceiro andar no Município de São Sebastião é concordar, acobertar, homiziar, acoitar.

10. Espero que consiga terminar o seu mandato de quatro anos – ainda faltam dois! – de maneira menos insonsa, ineficiente e incompetente do que nestes dois anos. O Município bem que mereceria isto!

Regina Helena de Paiva Ramos
Jornalista - reginahpaiva@uol.com.br

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