Um pau d’alho centenário, medindo cerca de 25 metros de altura, 8 de diâmetro e 20 metros de circunferência pode ser visto na mata atlântica, em área pertencente à antiga fazenda Mococa. Uma caminhada de duas horas separa o visitante do gigantesco espécime.
Não é difícil chegar até o local nem a trilha apresenta pontos perigosos; não há subidas íngremes ou descidas acentuadas. Mas é preciso obter autorização para chegar até ele. Também é preciso estar acompanhado de pessoa que conheça a floresta. Uma das filhas de José Gonçalves, que toma conta do remanescente da Fazenda Mococa, Elza, ou o mateiro Jurandir podem suprir essa necessidade mediante o pagamento de pequena gorjeta.
Apesar de exigir um pouco do visitante, principalmente daqueles que não estão acostumados a andar na mata, o passeio vale a pena. Pernilongos, borrachudos, urtigas e formigas são esquecidos quando se vê frente a frente com a árvore gigante da Mococa.
O seu caule desenha um círculo irregular, meio achatado, medin¬do oito metros ao seu longo e vinte metros de circunferência. Observando-a de um ângulo, parece se tratar de várias árvores reunidas para formar o espécime arbóreo. Todavia, tomando-a de frente, a impressão é de que seja mesmo única árvore, único tronco, creditando-se os vãos apresentados à degeneração da sua estrutura externa.
O fato é que uma grande extensão da sua casca já não existe mais, permitindo que se a trespasse de lado a outro sem qualquer dificul¬dade. Olhando do seu interior para o alto, constata-se a existência de vários buracos no que sobra da sua carcaça exterior, formando vãos pa¬recidos com “janelas ovaladas”, com as bordas já cicatrizadas.
Quantos anos ela teria somente especialistas podem aferir. Para o engenheiro florestal Ivan Suarez da Mota, 58, que por 26 anos comandou o núcleo em Caraguatatuba do Parque Estadual da Serra do Mar e atualmente é pesquisador científico do Instituto Florestal do Estado de São Paulo, ela tem seguramente mais de cem anos. Todavia, uma datação precisa somente seria possível através de análise mais aprofundada, como a contagem dos anéis que se formam no cerne do vegetal, acrescentou.
O pesquisador acredita que o espécime já esteja na fase final do seu ciclo vital. “Nesta altura, a árvore pode durar ainda 10 ou 20 anos, como pode tombar com um vendaval qualquer. Ela não tem muita estrutura para resistir, já cumpriu o seu tempo de vida”, disse.
O avançado processo de ruína põe em risco a existência da árvore, mas não se pode dizer que tudo esteja acabado. “A deterioração no corpo lenhoso se deve a ataques de cupins, brocas, insetos e até bactérias. Mas é possível recuperar parte do que ela perdeu com a aplicação de fungicidas, inseticidas e execução de reparos com a utilização de cimento especial para vegetais. De qualquer forma, como o cerne do vegetal está comprometido, a árvore pode sucumbir a qualquer momento”, completou.
A beleza desse pau d’alho e seu tamanho incomum podem levar a uma utilidade turística adequada, servindo de opção principalmente aos adeptos do chamado turismo ecológico, que adoram trilhas em busca de emoções e de atrações que encerram desafios.
A cidade ganharia em oferecer esse “algo a mais” em termos de turismo. A nova atividade também geraria empregos e renda aos guias que conduziriam as pessoas com segurança por trilhas preservadas e fiscalizadas pela polícia ambiental.
DÚVIDA – O engenheiro ambiental Ivan Suarez tem dúvida quanto à identificação do espécime existente na Mococa. Isto porque há duas espécies de árvores que apresentam cheiro de alho: o pau d’alho e a árvore-de-alho. Ambas são da família phytolaccaceae. O “pau d’alho verdadeiro”, ou Gallesia integrifólia, conhecido ainda por “guararema” e “Ibirama”, apresenta tronco único e fruto branco. Já o “pau d’alho falso”, ou Seguieria langsdorffii, conhecido também por “agulheiro”, “espinho-de-fuvu”, “árvore-de-alho” e “limão-bravo”, tem o fruto preto e seu tronco é composto por uma reunião de troncos menores fundidos entre si. Pelas fotos apresentadas, o engenheiro acredita que o espécime da Mococa seja o pau d’alho falso ante o aglomerado de troncos.
OUTROS GIGANTES - Na fazenda Mococa existe ainda outro pau d’alho, também gigante, distante do espécime aqui mostrado cerca de hora e meia de caminhada na mata. Quem garante é o mateiro Jurandir, que se propõe a mostrá-lo. Ivan Suarez da Mota informou que existem outras duas grandes árvores em Caraguá, uma na Trilha dos Tropeiros, na Serra do Mar, pertencente ao núcleo do Parque Estadual da Serra do Mar, e outra no Poço das Antas, na zona sul. Ambas são Jequitibás e a maior delas tem cerca de doze metros de circunferência.
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