sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Os dois filhos de Benedito

Gêmeos do Ipiranga dizem-se felizes recolhendo sucata   

Antonio Marcos, José Carlos e seu carrinho
A firme disposição para o trabalho, mesmo nos domingos e feriados, à luz do dia ou à noite, sob o sol ou a chuva, é a marca desses gêmeos, que sobrevivem da recolha de sucatas em Caraguá.

Anônimos, a alegria com que encaram a vida, percorrendo vários quilômetros a pé diariamente, empurrando carrinho abarrotado de papelão, plástico, latinhas de alumínio e metais, sem nunca esmorecer ou maldizer da sorte, parece nos oferecer motivos para reflexão.

José Carlos e Antonio Marcos de Souza, 38 anos em 2010, são caiçaras da terra e moram na av. Brasil, no bairro Ipiranga. Filhos de Benedito Souza, ex-funcionário aposentado da extinta Sudelpa, e de dona Maria Amparo, ambos já falecidos, tiveram problemas de saúde na infância.

José Carlos de Souza
Família simples, enfrentando dificuldades e sem muito sucesso nos estudos, logo tiveram de buscar alguma renda para garantir o sustento. O que decidiram fazer demonstra que não são as dificuldades que produzem o malfeitor.

A pré-disposição ao crime parece ser componente da estrutura genética de cada um e que mais tarde assoma ao caráter. Se é verdade que bandidos advêm de lares pobres, verdade também é que os mais virulentos e perigosos provêm de famílias remediadas ou abastadas e não raro vestem paletó e gravata e ocupam posições importantes.

Antonio Marcos de Souza
Veja o exemplo de Brasília, com seus dólares nas meias e cuecas. Os gêmeos optaram pelo trabalho duro e se habituaram a comer do pão com o suor do próprio rosto. Com certeza, a boa orientação recebida no lar e os valores absorvidos no perpassar dos anos forjaram-nos cidadãos prestativos e decentes.

José Carlos já fez parte da associação dos catadores de sucatas; saiu por falta de acerto nas contas. É corintiano, enquanto que o irmão um dia já foi torcedor pelo São Paulo. Apesar de não professarem religião específica, garantem que possuem Deus dentro do peito e que nunca fizeram mal ao semelhante, nem se envolveram com polícia.

Mal assinando o nome e com dificuldades quando estão diante da urna eleitoral, dizem-se satisfeitos com o pouco que ganham e felizes com o trabalho que as circunstâncias os obrigaram a encarar.

Benedito de Souza, o pai, já falecido
Quanto ao futuro, desejam ter saúde e apenas ambicionam conseguir local nos arredores do centro para depositar o papelão, latinhas de cerveja e plástico que recolhem. Entregando diretamente ao comprador, sem intermediário, terão maiores ganhos e não será preciso empurrar o carrinho por longos percursos, dizem.

A vida vale a pena ser vivida, e intensamente, e as dificuldades do dia a dia são coisas de menor importância e perfeitamente contorrnáveis se comparadas à infinita alegria de viver, garantem os gêmeos.

Esta é a lição singela que esses irmãos catadores de papelão nos oferecem.
O Blog de Caraguá - k

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